Primeiro Meliponário público de Marília-SP: avaliação da segurança e qualidade nutricional do mel produzido por abelhas nativas sem ferrão

“Se as abelhas desaparecerem, ao homem restarão apenas quatro anos de vida”, célebre frase de Albert Einstein. Apesar de parecer impossível, pois elas sempre foram bichinhos abundantes na natureza, é fato que a população mundial de abelhas está drasticamente reduzida. E, pelo papel importantíssimo das abelhas na polinização de plantas, não são apenas elas que se encontram ameaçadas, mas o equilíbrio de vários ecossistemas do planeta, para a manutenção das populações selvagens de plantas, assim como a produção de alimentos em ambientes agrícolas em várias regiões do mundo. As abelhas nativas são elementos importantes para o equilíbrio dos ecossistemas, pois fazem a polinização de plantas naturais e cultiváveis. São produtoras de mel e própolis, que podem ser utilizados para consumo humano ou como medicamentos naturais, além do pólen (samburá), cerume e núcleos. O Brasil dispõe de uma grande diversidade de espécies dessas abelhas nativas, em especial por estarem adaptadas às condições climáticas e florísticas, e como a produção desse mel muitas vezes é regionalizada e o volume disponível é menor, seu valor no mercado é muitas vezes maior do que o do mel produzido pelas abelhas “africanizadas”, criadas pelos apicultores brasileiros e presentes em todo o território nacional. Para além da sua característica de adoçador natural e fonte de energia, o consumo do mel está ligado a inúmeros efeitos terapêuticos descritos amplamente pela literatura científica, entre os quais destacam-se suas ações: antimicrobiana, anti-inflamatória, antioxidante, cicatrizante, analgésica, aumento da resposta imunológica e diminuição da proliferação celular. Tais propriedades terapêuticas estão diretamente relacionadas à presença de ácidos orgânicos, carotenoides e inúmeros compostos fenólicos em sua composição. Ainda, os méis de abelhas nativas brasileiras apresentam compostos fenólicos com atividades antioxidantes não encontrados em méis de outras regiões do mundo. No entanto, apesar da indiscutível relevância socioambiental, econômica e para a saúde humana, as abelhas nativas sem ferrão encontram-se em processo de desaparecimento e diminuição de suas populações em seus habitats naturais, sendo ameaçadas por ações antrópicas e correndo risco de extinção. Diversos fatores têm contribuído para a diminuição das populações de abelhas, em especial as nativas, entre os quais destacam-se: o uso indiscriminado de agrotóxicos e o plantio de monoculturas; as alterações de habitat pelo desmatamento e queimadas, visto que a maioria das espécies de abelhas nativas nidificam em ocos de árvores; a crescente urbanização; ao manejo inadequado das colônias; a introdução da abelha Apis mellifera, uma espécie que causa competição com as abelhas nativas pelos recursos naturais de sustentação dos ninhos; a ação predatória dos meleiros e até o combate pelos apicultores por considerarem-nas competidoras da A. melífera. Ainda, por não terem capacidade de ferroar (já que apresentam ferrão atrofiado) e geralmente não serem agressivas, as ASF são facilmente encontradas nas propriedades rurais e podem ser criadas de forma racional, surgindo, portanto, os meliponários como uma forma de proteção e conservação da grande diversidade de espécies de ASF. Os meliponários correspondem aos locais onde as colmeias de meliponíneos são instaladas, principalmente, para dar conforto às abelhas e facilitar o trabalho do meliponicultor. Tendo em vista a preocupação com a diminuição das populações das abelhas nativas e as consequências ambientais e econômicas resultantes, um grupo de voluntários residentes em Padre Nóbrega, distrito do município de Marília, interior de São Paulo, idealizou um projeto denominado Doce Futuro. Nele, se prevê o cultivo e a preservação de abelhas nativas em uma área de degradação ambiental doada pela prefeitura do município, assim como a divulgação da importância dessas abelhas e a promoção da educação da população em geral. Desta forma, o objetivo deste projeto é realizar análises físico-químicas e microbiológicas dos méis produzidos por diferentes espécies de abelhas nativas sem ferrão cultivadas no meliponário; identificar presença de compostos bioativos, estudando suas propriedades nutritivas e funcionais; além de aprimorar o conhecimento sobre a organização do manejo da meliponicultura, envolvendo alunos do curso de Tecnologia em Alimentos, proporcionando aprendizado sobre sustentabilidade e conscientização ambiental. O estudo será conduzido com a participação de uma equipe multidisciplinar formada por docentes e discentes da Fatec Marília e por voluntários idealizadores do projeto Doce Futuro (moradores de Padre Nóbrega, distrito da cidade de Marília), de forma coletiva e colaborativa. A área destinada ao meliponário apresenta aproximadamente 120 mil m2, localizada na região de Padre Nóbrega, distrito de Marília, interior do Estado de São Paulo. Serão conduzidos cursos de aprimoramento e estudos em grupos de forma continuada abrangendo temas como: biologia das abelhas nativas sem ferrão; nidificação e morfologia dos ninhos; iscas para captura de abelhas sem ferrão; manejo e importância do meliponário; produção de própolis e geoprópolis; estudo dos parâmetros físico-químicos dos méis de abelhas nativas sem ferrão. Os estudos serão conduzidos nas salas de aula da Fatec Marília e nas dependências do meliponário na sede do projeto Doce Futuro. As análises físico-químicas e microbiológicas, bem como a identificação de compostos bioativos funcionais serão realizadas nos Laboratórios de Análises Físico-químicas e Microbiológicas da Fatec Marília, a partir de metodologias oficiais e descritas na literatura científica.

Estágio de desenvolvimento do projeto Pesquisa laboratorial

O principal Eixo Tecnológico ligado ao projeto: Ambiente e Saúde, Produção Alimentícia

Unidade em que é/será realizado o projeto: Fatec Marília - Estudante Rafael Almeida Camarinha

Nome completo do responsável pelo cadastro da unidade: Flavia Maria Vasques Farinazzi Machado

Telefone da unidade: 14 34547540

Endereço de e-mail institucional: flavia.machado2@fatec.sp.gov.br